A liturgia da palavra, na Solenidade da Santíssima Trindade, segue o itinerário da fé, como resposta do homem à revelação divina: do Uno ao Trino. Na oração coletiva, nos dirigimos a Deus, o Pai, que, ‘enviando a palavra da verdade e o Espírito santificador’, revelou seu mistério. A seguir, inverte o movimento do Trino ao Uno: “Fazei que reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a unidade onipotente”, pois na revelação de cada uma das pessoas se manifesta a “mesma natureza divina e igual majestade”. Assim sendo, a verdade trinitária é a afirmação da unidade e da unicidade de Deus.
A leitura de pequeno trecho do Livro do Êxodo é a síntese dos sinais reveladores de Deus no Antigo Testamento (Ex 34, 4b-6.8-9). É quem convoca Moisés. Liberta da escravidão. Revela o nome. Sela a aliança. Promulga a lei. Caminha à frente com o povo de sua propriedade. Seus atributos são salvíficos: misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel (v. 6). Seu nome é invocado (v. 5) em favor das necessidades do seu povo. Neste sentido, Ele é salvador. A resposta da fé é a obediência da lei, do cumpridor da palavra, no amor e na fidelidade à eleição e à aliança, afirmando a pertença. Portanto, a confissão de fé em Deus possui o objetivo prático, sobretudo, da justiça da lei.
O pequeno trecho do Evangelho contrasta com a densidade da nova revelação do Filho (Jo 3, 16-18). Percebe-se a síntese feita pelo evangelista. Visa à revelação do Filho pelo qual, mediante a fé, somos salvos e alcançamos a vida plena. Então, diz sem rodeios: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que n’Ele crer, mas tenha a vida eterna” (v. 18). A sorte do homem está já lançada: “quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado porque não acreditou no nome do Filho” (v. 18). Claro que se trata da descrença culposa (12,37). Seu nome é Jesus, o mesmo que Salvador. Neste nome, está contida a profissão de fé. Sempre acompanhada pelo amor-ágape.
Quanto ao brevíssimo texto da epístola, reproduz a saudação de origem litúrgica: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2 Cor 13,13). O desejo da saudação é que cultivemos o relacionamento, correspondente a cada uma das pessoas divinas: graça, amor, comunhão. Promove as relações humanas interpessoais, na Igreja e nas sociedades, no respeito pelas diferenças, a favor da gratuidade e da comunhão, na verdade e na unidade, do “mesmo sentimento, mesmo amor, numa só alma, num só pensamento” (Fl 2, 2). Sobretudo, supõe e estimula que a alma seja o ambiente íntimo de adoração e de louvor à divina presença.
Fazei que reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a unidade onipotente.
Dom Edson de Castro Homem - Bispo Auxiliar
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