A descida do Espírito Santo sobre a primeira assembleia dos apóstolos e dos discípulos, junto com Maria, a Mãe de Jesus, expressa o que somos enquanto Igreja, comunidade orante de irmãos e irmãs.
A oração é de intenso desejo: que o Espírito Santo, o Prometido, venha. A intenção da prece é a do próprio Jesus, Filho de Deus e Irmão nosso: “rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre” (Jo 14, 16). Em comunhão com Cristo e por Cristo, a Igreja se sentia, desde o início, sua família. Daí, a presença marcante da Mãe.
A narrativa de Lucas, a única que possuímos sobre a descida do Espírito, simboliza a realidade para torná-la expressiva (Lc 2, 1-13). Poderia ser chamada de realismo simbólico do derramamento do Espírito. O acontecimento é narrado do ponto de vista temporal e espacial.
O tempo é expresso: “completado o Dia de Pentecostes”. Tendo como referência a antiga celebração judaica, são 50 dias após a Páscoa, tempo oficial da inauguração da Igreja, fundada pelo Jesus histórico. Mudada a referência, atualiza o significado. A partir de então, o Espírito, Pentecostes e a Igreja terão laços estreitados e tão profundos, que irão além do tempo.
O espaço, no entanto, é determinado: “estavam todos reunidos no mesmo lugar”. A assembleia é convocada e reunida em recinto predeterminado. O espaço é o lugar do encontro marcado para a oração e a celebração, a recepção e o envio. Logo a seguir, da sala à praça pública, símbolo do sair ao encontro, para divulgar a Mensagem e oferecer o Batismo.
Vento e fogo são os símbolos do dinamismo do Espírito. O vento enche o lugar. Preenche o espaço, preparando-o para a ação sagrada sobre os presentes. Impetuoso, simboliza o poder soberano e irresistível de Deus. Quem pode impedir o vento que sopra? Quem pode contê-lo? Assim também, quem pode resistir ao Espírito de Deus? E o discípulo conduzido por Ele?
Quanto ao fogo, são línguas que se repartiram e que pousaram sobre cada um deles. Quer dizer que o Espírito Santo fora derramado sobre as pessoas reunidas, porém, de modo personalizado. Todos, de fato, ficaram repletos da unção espiritual.
Consequentemente, começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia se exprimirem. Trata-se de ação profética, em ordem à difusão e à compreensão da Palavra. Diz respeito à universalidade da Mensagem. O instrumento é o homem e a mulher que dizem e falam, pregam e anunciam, professam e testemunham. Consequentemente, o tempo da Igreja é o do anúncio universal do Evangelho de Jesus, cujo conteúdo é a boa notícia da salvação. É o tempo do ensinamento a favor do seguimento, de tornar-se discípulo no amor.
Seja como for, é conveniente recordar o sábio comentário de Bento XVI: “podemos agora dizer: o cristianismo não era apenas uma “boa nova”, ou seja, uma comunicação de conteúdos até então ignorados. (...) Não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera fatos e muda a vida” (Spe Salvi, 2). Pentecostes, portanto, fala ao coração, pois é o dom do Espírito da comunicação comunicante de Deus. Gerou e gera fatos novos e vitais. Transforma vidas. Visualiza as maravilhas operadas por Deus, no início da pregação do Evangelho, hoje como ontem. Renova, pois, a esperança na Igreja para o mundo.
Conduzida pelo Espírito Santo, a Igreja revive sempre um novo Pentecostes diante da missão no vasto mundo dos povos e, sobretudo, no íntimo das pessoas, em variadas circunstâncias, diversos desafios e múltiplas possibilidades. Reconhecer a ação do Espírito é louvá-Lo.Autor: Dom Edson de Castro Homem
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