O Papa Francisco anunciou neste domingo, 12 de janeiro, a criação de 19 novos cardeais, provenientes de doze diferentes países, entre os quais o único brasileiro foi o arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta. A lista inclui responsáveis da Cúria Romana e várias dioceses. Dom Lorenzo Baldisseri, que foi Núncio Apostólico no Brasil, também foi nomeado. Dos novos, o Santo Padre uniu também ao Colégio Cardinalício três arcebispos eméritos, que – disse – se distinguiram pelo seu serviço à Santa Sé e à Igreja.
Agora o Brasil passa a ter dez cardeais, sendo atualmente cinco votantes (com menos de 80 anos), num eventual conclave. Os cardeais brasileiros são, além de Dom Orani, nomeado hoje: Dom Eusébio Oscar Scheid, do Rio de Janeiro; Dom Paulo Evaristo Arns, de São Paulo; Dom José Freire Falcão, de Brasília; Dom Serafim Fernandes de Araújo, de Belo Horizonte; Dom Cláudio Hummes, de São Paulo, e Dom Geraldo Majella Agnelo, de Salvador. Também os arcebispos Dom Odilo Pedro Scherer, de São Paulo; Dom Raymundo Damasceno Assis, de Aparecida e Dom João Braz de Aviz, atual prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, no Vaticano (os grifados são, atualmente, votantes).
Uma graça e uma grande responsabilidade
Quando foi feito o anúncio, Dom Orani estava nos estúdios da TV Brasil, onde celebrou, ao vivo, às 8h, a Santa Missa, com a presença da imagem peregrina de São Sebastião.
Em entrevista aos veículos de comunicação da Arquidiocese, ele afirmou que a nomeação é uma graça e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade: "Em minha indignidade tenho certeza que a graça de Deus não me faltará para poder bem servir a Igreja nessa dimensão universal que é a dimensão do cardinalato. Peço a todos que continuem rezando por mim para que possa continuar servindo à Deus, à Igreja, como tenho servido até hoje, mas agora com essa responsabilidade maior, que se une as que já desenvolvo".
Os cardeais têm a tarefa de ajudar o sucessor de Pedro no desenvolvimento do seu ministério de confirmar os irmãos na fé e de ser princípio e fundamento da unidade e da comunhão da Igreja.
O anúncio
O anúncio foi feito no final da oração do Ângelus, realizada na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Conforme anunciado no dia 31 de outubro de 2013, o Consistório de criação dos novos cardeais será no dia 22 de fevereiro, na festa da Cátedra de São Pedro.
Na ocasião, o Santo Padre entregará três símbolos importantes que estão diretamente ligados à vida e à missão de um cardeal: o barrete, o anel e o título cardinalício. Os cardeais estarão usando a veste cardinalícia, na cor vermelha, que representa o sangue do martírio e indica que cada cardeal de certa forma está pronto a dar a vida por Cristo e a sua Igreja em toda e qualquer circunstância.
O Consistório será realizado em meio a várias reuniões importantes, já determinada pelo Papa Francisco: a do Colégio Cardinalício, nos dias 17 e 18 de fevereiro; a terceira reunião do Conselho de Cardeais (dos oito cardeais); a reunião do Conselho do Sínodo, nos dias 24 e 25; e Conselho dos Cardeais para os assuntos econômicos e organizativos da Santa Sé (Conselho dos 15).
O último consistório público, convocado pelo Papa Bento XVI, para a criação de seis novos cardeais, foi realizado no dia 24 de novembro de 2012. Até então, o Brasil já teve 20 cardeais. O primeiro, também da America Latina, criado em 1905, foi o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti (1850 - 1930).
Colégio Cardinalício
O Colégio de Cardeais, cuja origem está ligada ao clero antigo da Igreja Romana, tem a função de eleger o sucessor de Pedro e aconselhá-lo em questões de maior importância. Seja nos escritórios da Cúria Romana ou em seus ministérios nas Igrejas locais em todo o mundo, os cardeais são chamados a partilhar de modo especial na solicitude do Papa para com a Igreja universal, promovendo a santidade, a comunhão e paz da Igreja A cor viva de suas vestes tem sido tradicionalmente vista como um sinal de seu compromisso de defender o rebanho de Cristo até o derramamento de seu sangue. (cf. Discurso de Bento XVI, na audiência com os novos cardeais, familiares e fiéis, em 26 de novembro de 2012).
Francisco seguiu a regra dos 120 cardeais eleitores com menos de 80 anos. Atualmente havia 13 lugares “vacantes”, outros 3 serão “vacantes” até o próximo mês de maio. Por isso o Papa escolheu 16 eleitores.
Dos 16 eleitores, 4 são membros da Cúria, portanto um quarto do total, e 12 são Arcebispo ou Bispos residenciais de países todos diferentes entre eles.A distribuição dos prelados residenciais eleitores está bem distribuída entre os diversos continentes:
Europa 2; América do Norte e Central 2; América do Sul 3; África2; Ásia 2.A escolha de cardeais do Burkina Faso e do Haiti indica a atenção pelos povos provados pela pobreza.
Foram escolhidos prelados residenciais também de sedes não tradicionamente “cardinalícias”, como Perúgiana Itália, Cotabato na Ilha de Mindanau nas Filipinas.Entre os cardeais não eleitores destaca-se a criação de Dom Capovilla, Secretário do Beato Papa João XXIII, que será canonizado no mês de abril.
O mais idoso é Dom Capovilla, 98 anos, e o mais jovem, Dom Langlois, 55 anos.Destaque o Brasil é a escolha por parte do Papa Fancisco de Dom Orani João Tempesta e do Arcebispo Dom Lorenzo Baldisseri, que por quase 10 anos foi Núncio Apostólico no Brasil e hoje é o Secretário do Sínodo dos Bispos.
Rito do Consistório
Após a proclamação das leituras e da alocução, o Santo Padre vai ler a fórmula de criação e proclamará solenemente os nomes dos novos cardeais, para os unir com “um vínculo mais estreito à Sé de Pedro”.
Depois terá lugar a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência ao Papa e seus sucessores, “agora e para sempre”. A profissão de fé, que faz parte do Símbolo niceno-constantinopolitano, é a síntese da fé da Igreja que cada um recebe no momento do Batismo.
Cada um ajoelha-se, para receber o barrete cardinalício, que o Papa impõe “como sinal da dignidade do cardinalato”, significando que todos devem estar prontos a comportar-se “com fortaleza, até à efusão do sangue".
O Papa oferece ainda um anel aos novos cardeais para que se “reforce o amor pela Igreja”, seguindo-se a atribuição a cada cardeal uma igreja de Roma (título ou diaconia) – que simboliza a “participação na solicitude pastoral do Papa” na cidade -, bem como a entrega da bula de criação cardinalícia, momento selado por um abraço de paz.
Cátedra de São Pedro
A cátedra é a poltrona reservada ao bispo, da qual é derivado o nome catedral, a igreja na qual o bispo preside a liturgia e ensina o povo.
A Cátedra de São Pedro, representada no fundo da Basílica Vaticana por uma monumental escultura de Bernini, é símbolo da especial missão de Pedro e dos seus sucessores de pastorear o rebanho de Cristo conduzindo-o unido na fé e na caridade.
Desde o inicio do segundo século, Santo Inácio de Antioquia atribuía à Igreja de Roma um singular primado, saudando-a, na sua carta aos romanos, como aquela que "preside a caridade".
Tal especial papel de serviço atribuído à Igreja Romana e ao seu bispo provém do fato que nesta cidade foi derramado o sangue dos apóstolos Pedro e Paulo, além de numerosos mártires. Assim, o testemunho do sangue e da caridade.
A Cátedra de Pedro, portanto, é sinal de autoridade, mas daquela de Cristo, baseada sobre a fé e sobre o amor.
(cf. Bento XVI, Oração do Ângelus, na Praça de São Pedro, Vaticano, em 19/02/2012)
Curiosidades
O título de cardeal foi reconhecido pela primeira vez durante o pontificado de Silvestre I (314-335).
A princípio, o título era atribuído genericamente a pessoas a serviço de uma igreja ou diaconia, reservando-o mais tarde aos responsáveis das Igrejas titulares de Roma e das igrejas mais importantes da Itália e do estrangeiro.
O Colégio Cardinalício foi instituído em sua forma atual em 1150. Desde então, os cardeais têm sido os únicos eleitores do Papa a quem elegem em conclave, seguindo as últimas orientações da constituição apostólica de João Paulo II, a "Universi Dominici gregis", de 22 de fevereiro de 1996.
O número de cardeais variou até quase fins do século 16 e seguiu crescendo ao ritmo dos sucessivos desenvolvimentos dos assuntos da Igreja, mas sua internacionalização ficou acentuada nas últimas quatro décadas.
Paulo VI estendeu Colégio Cardinalício para incluir aos patriarcas orientais e fixou seu número em 120 membros.
Como conselheiros do Papa, os cardeais atuam colegialmente com ele através dos consistórios, que o Romano Pontífice convoca e se desenvolvem sob sua presidência. Os Consistórios podem ser ordinários ou extraordinários.
Significado da palavra cardeal
A função de um cardeal é assistir o Papa em suas diversas competências. Os cardeais, agrupados no Colégio dos Cardeais, são também chamados de purpurados, pela cor vermelho-carmesim da sua indumentária. A etimologia do termo cardeal encontra-se no latim cardo/cardinis, em português gonzo ou eixo, algo que gira, neste caso em torno do Papa.
Fonte: arquirio.org